Mais do que força: o cérebro como principal arma
Em um esporte individual como o tênis, onde não há um time para dividir as responsabilidades, o fator mental se torna decisivo. Enquanto a técnica e o preparo físico são amplamente treinados, a mente muitas vezes é subestimada. No entanto, quem acompanha torneios profissionais sabe que uma quebra de concentração pode significar a perda de um set – ou até mesmo de um campeonato.
Atletas como Novak Djokovic e Rafael Nadal não se destacam apenas por suas jogadas geniais, mas pela incrível capacidade de manter o foco sob pressão extrema. Dominar a raquete é uma habilidade; dominar a própria mente é um diferencial.
Pressão invisível: o peso do favoritismo
O tênis impõe ao atleta a responsabilidade de ser seu próprio técnico durante os pontos. Ao contrário de esportes coletivos, onde há pausas para orientações táticas, no tênis o jogador precisa lidar sozinho com seus altos e baixos emocionais.
Quando um tenista entra em quadra como favorito, a cobrança é silenciosa, mas poderosa. A expectativa externa pode influenciar decisões, tornar os braços mais pesados e os pensamentos mais acelerados. Muitos jovens talentos acabam desmoronando por não conseguirem lidar com o rótulo de “próxima promessa”.
A importância do momento presente
Uma das técnicas mais utilizadas atualmente por tenistas profissionais é o mindfulness – a atenção plena. Estar no momento presente é essencial para quem precisa reagir em milésimos de segundo a uma bola a mais de 150 km/h.
A mente tende a viajar entre erros passados e medos futuros. Um break point perdido ou uma dupla falta pode arruinar a confiança do jogador. Por isso, treinar o cérebro para ignorar o que já aconteceu e focar apenas no próximo ponto é uma habilidade valiosa. E como qualquer outra habilidade, pode (e deve) ser treinada.
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Rotinas e rituais: superstição ou estratégia?
É comum ver jogadores repetindo movimentos antes do saque, ajeitando a roupa ou batendo a bola no chão com contagens específicas. Embora muitos chamem isso de superstição, há uma explicação psicológica por trás desses rituais.
As rotinas pré-ponto ajudam a criar uma zona de conforto e controle em meio ao caos da partida. Elas reduzem a ansiedade, estabilizam o ritmo cardíaco e reforçam a concentração. Grandes nomes como Serena Williams e Rafael Nadal são conhecidos por manter rituais rigorosos – e isso não é à toa.
A guerra contra o próprio eu
Muitos especialistas dizem que o maior adversário de um tenista é ele mesmo. Em partidas longas, especialmente em Grand Slams, os altos e baixos emocionais são inevitáveis. Saber se recuperar de um erro, manter o otimismo e não ceder ao nervosismo é o que separa os campeões dos promissores.
Casos como o de Naomi Osaka, que expôs sua luta contra a saúde mental, mostram que a pressão sobre os atletas de elite pode ser tão intensa quanto invisível. Mais do que nunca, torna-se essencial cuidar da mente com a mesma dedicação que se cuida do saque ou da movimentação.
Apostas esportivas e o impacto no psicológico dos atletas
Com o crescimento das apostas esportivas em torneios de tênis ao redor do mundo, surge um novo tipo de pressão sobre os jogadores: o público que aposta. Comentários agressivos em redes sociais, cobranças indevidas e até ameaças por resultados considerados “injustos” vêm afetando o emocional de diversos tenistas.
Esse fenômeno levanta um debate sobre o quanto os jogadores devem ser blindados e como as plataformas devem agir diante de abusos. Afinal, um erro em quadra pode ser apenas humano – mas na era digital, as consequências extrapolam o ambiente esportivo.
O papel dos psicólogos no circuito profissional
Atualmente, muitas equipes técnicas já contam com psicólogos esportivos como parte essencial do staff. A função vai desde ajudar o atleta a lidar com derrotas e frustrações até desenvolver estratégias mentais para situações de alto estresse.
Em grandes torneios, como o Australian Open ou Roland Garros, o aspecto psicológico pode ser decisivo entre dois atletas tecnicamente equivalentes. Um exemplo disso foi a final do US Open de 2021, em que Daniil Medvedev superou Djokovic com frieza e consistência emocional, mesmo diante de uma torcida majoritariamente contra.
Conclusão
O tênis é, antes de tudo, um duelo mental. Entender como o psicológico influencia cada movimento, cada decisão e cada ponto é essencial para apreciar ainda mais a complexidade desse esporte fascinante. Em uma época onde a saúde mental ganha cada vez mais visibilidade, enxergar os tenistas além do físico é um passo importante rumo a um esporte mais humano, equilibrado e inspirador.