De acordo com a mídia indiana, na quinta-feira passada (10 de julho de 2025) a tenista local Radhika Yadav, de 25 anos, foi morta a tiros dados pelas costas por seu pai, Deepak Yadav. O caso gerou comoção e revolta no país.
Deepak disparou cinco tiros contra a filha, na manhã daquele dia enquanto a jovem preparava café da manhã para ele. Dos cinco disparos, informou a polícia local, quatro acertaram as costas da tenista, que oficialmente não compete desde março do ano passado quando caiu na estreia do ITF de Indore, na Índia. A jovem estaria lesionada.
Assassino confesso da tenista, Deepak Yadav disse a polícia que tirou a vida da própria filha porque estava “cansado de ser chacota” em sua comunidade e que as pessoas o criticavam por ser pai de uma filha “economicamente dependente e com liberdade demais”.
Um ex-treinador da tenista, Ankit Patel, foi ouvido pela NDTV e falou da “super proteção” e do apoio o pai sempre teve com a jovem: “Eu a conheço desde os 11 ou 12 anos. Conheci o pai dela também. Nunca encontrei nada de errado durante os treinos dela. Eles tinham uma boa ligação. Ele sempre a apoiava (no que dizia respeito ao tênis) e sempre viajava com ela. Nunca vi Radhika sozinha ou acompanhada (de estranhos), em lugar nenhum. Se ele lhe dava tanta atenção, talvez não seja correto dizer que ele tinha um problema com o esporte, mas ninguém sabe o que pode mudar a qualquer momento”.
Cobranças por resultados e sentimento de posse
A ex-tenista indiana e primeira mulher do país a assumir o comando da polícia nacional, Kiran Bedi também foi ouvida pela imprensa local e apontou para a fustração que muitos pais afirmam sentir ao investirem na carreira esportiva dos filhos e não os verem grandes campões. Com base nos testemunhos de pessoas ligadas a família Yadav pelo esporte, Deepak não estava satisfeito com o fato da filha estar lesionada e não ter conquistado grandes coisas.
“Os pais precisam compreender que no esporte, em especial no tênis, todos lutam muito e muitas vezes o resultado demora a vir. É preciso viagens, trabalho, paciência. Um pai não deve exigir que um filho seja campeão”, declarou Bedi
A melhor amiga de Radhika, Himaanshika Singh Rajput, afirmou que a jovem era muito repreendida e pressionada emocionalmente pela família. Segundo vídeo publicado em uma rede social, Rajput afirma: “Ele tornou a vida dela miserável por anos com suas críticas controladoras e constantes. No final, ele deu ouvidos a supostos amigos que tinham inveja do sucesso dela”.
Segundo Rajput e outros amigos de Radhika, o plano da tenista era abrir sua academia de tênis e ficar finalmente “livre” da família.
Desejo por liberdade
Uma reportagem desta semana da NDTV traz uma conversa de Whatsapp entre Radhika e um de seus ex-treinadores, Ajay Yadav. Na longa troca de mensagens, Radhika fala do plano de afastar-se de casa entre outubro e dezembro para poder viver “mais livre”.
Ajay então aponta para uma oportunidade que arranjou para ela na China, mas a tenista rejeita a oferta por medo de não se adaptar à alimentação local. Ela então entra com outro plano: “Eu penso que ir à Austrália é melhor. Austrália ou Dubai. Eu tenho parentes na Austália e em Dubai eu tenho você”.
Ele então manda um audio que a reportagem não teve acesso e a tenista responde: “Eu faço qualquer coisa, eu quero sair daqui por um tempo”. Ajay responde com um emoji de risada e a tenista completa: “(Meus) Familiares estão bem. Mas eu quero viver uma vida independente por um tempo. Quero aproveitar, há muitas restrições aqui. Descansar, veja, o objetivo é fazer bastante curso”.
Apesar de não competir profissionalmente há um ano, Radhika estava trabalhando como treinadora de crianças.
Restrições de viagem
Em quatro anos como profissional, entre 2017 e 2024, Radhika Yadav competiu por 30 torneios, todos em nível ITF e a maioria disputados na Ásia, contrariando as declarações dos homens de sua família, que após o seu assassinato afirmaram que ela teria viajado o mundo (reportagem da NDTV).
O mais distante que a tenista viajou foi para o centro da África, onde disputou dois ITFs na capital do Burundi. Ainda em território africano, a tenista jogou algumas vezes na Tunísia. Os demais eventos da tenista foram em seu país natal, na Tailândia e na Malásia, dadas as restrições impostas pelo pai.
No circuito juvenil, Radhika nunca saiu da Índia para competir, mesmo, segundo a imprensa local, tendo feito parte de programas da federação local que apoia tenistas locais a viajarem para torneios fora do país para ganharem experiência.
Restrições a uma mulher maior de idade
Radhika Yadav foi estrela de um vídeoclipe da música “Karwaan” da cantora INAAM e de acordo com a artista, o pai dela havia gostado da música e do vídeo clipe. Situação refutada pelos amigos da jovem, incluindo Rajput que em seu vídeo afirmou que o Deepak tinha ciúmes da filha a ponto de nenhum homem poder se aproximar dela sem autorização.
INAAM foi procurada pela mídia indiana, após diversos amigos da tenista comentarem em redes sociais de Deepak teve uma crise de ciúmes porque a jovem faz “par romântico” no vídeoclipe. Informação que a família nega.
“Está claro que ela tinha a permissão do pai e a mãe também veio ao set com ela”, declarou a artista que não tinha nenhuma ligação prévia com Radhika.
“Ela era talentosa e se saiu muito bem para uma estreante. Radhika não promoveu o vídeo. Acontece que vi uma matéria em que ela dizia que o avô dela tinha morrido. Achei que esse era o motivo e ela não o promoveu”, declarou a cantora. Os amigos da tenista afirmam que ela não o promoveu nas redes sociais po exigência do pai.
Repercussão
Após o caso de Radhika, novamente as questões de violência contra a mulher e em especial a violência parental muito comum na Índia voltaram à pauta no país. Karin Bedi, ex-tenista e autoridade policial no país, deu uma orientação na TV para como meninas em situação de restições severas como Radhika possam se defender e buscar ajuda das autoridades.
O assunto é o mais dos mais abordados pela mídia local.