Por Ariane Ferreira e Fabrizio Gallas
Leo Azevedo, diretor técnico da Rede Tênis, e o treinador Danilo Ferraz, concederam entrevista ao Tênis News durante o ENGIE Open, o WTA de Florianópolis e destacaram o processo de lapidação de Nauhany Silva.
A jovem de apenas 15 anos venceu recentemente seu primeiro torneio profissional no W15 de São João da Boa Vista, a mais jovem desde Bia Haddad Maia a ganhar um torneio e se tornou uma das mais jovens a ganhar um jogo de WTA no SP Open em São Paulo.
Esta semana na Super 9 Tennis Park, em Jurerê Internacional, no Jurerê Sports Center, Naná levou a 109ª do mundo e quinta favorita, a austríaca Julia Grabher ao limite, caindo nos detalhes no tie-break do terceiro set.
Léo e Danilo destacaram que a jogadora tem apenas 15 anos, pontuaram que o processo vem sendo construído sem “oba-oba”, com ajuda da família, sem tirar o instinto da jogadora e projetando para o brilho em coisa de cinco, seis anos.
Os dois explicaram sobre o calendário onde jovens têm limites de torneios tendo que mesclar com juvenil e seus próximos passos.
Tênis News – Ela fez uma baita jogo em simples aqui, perdeu nos detalhes ali escapou de ganhar ali, contra a 109 do mundo. Está no melhor momento dela, acabou de ganhar título, uma das mais jovens brasileiras a ganhar um título. Como é que vocês estão vendo esse momento e como é que vocês estão lidando com isso tudo? A gente tem ali o hype do Fonseca e está tendo aí um hype em cima dela, da Vitória (Barros) também.
Léo: Bom, a gente tenta lidar com bastante pé no chão. A gente nunca pode esquecer que a Naná, por mais que jogue um belíssimo tênis, por mais que você bata na bola como adulta, uma mulher, ela tem 15 anos. Eu acho que às vezes o exterior olha muito para o que ela está fazendo e não olha para quem na verdade ela é. Ela é uma menina que tem 15 anos e que está vivenciando várias coisas novas na vida dela.
E acho que o nosso trabalho principal agora, na verdade são dois. Um é continuar esse processo de melhora e outro não atropelar o processo.
A gente tem que entender que ela tem 15 anos e que o nosso trabalho é fazer com que ela jogue bem de verdade. Daqui a 5, 6, que ela seja uma jogadora excelente lá na frente. Com 15 anos você ainda está em um momento de muito aprendizado.
(Sobre) Ontem a gente estava conversando hoje. Foi um baita jogo e eu fiquei super feliz. Não me doeu zero. Não vou falar, zero porque perder sempre é pior que ganhar. Mas a felicidade de ver o nível que ela jogou, uma adversária que está 100, que foi 50.
Um estilo de jogo que não é o jogo que eu prefiro para ela jogar. (O jogo) Foi super tarde, o dia inteiro esperando. Cai a luz, volta a luz. Salvou o match point. Eu fui dormir muito mais com alegria de ter visto mais um passo de evolução dela do que com a tristeza da derrota. Porque é o tipo de derrota que você traz muita coisa positiva para o futuro.
Acho que é isso. Seguir melhorando, trabalhando. Pés no chão, quietinhos. Esperando que lá na frente a gente vá ver coisas melhores.
TN: Como é a cabeça dela? Uma menina de 15 anos, está crescendo, é muita coisa em volta, muita gente falando. Parece uma menina calma, parece uma menina tranquila, parece uma menina do bem. Não vai se desviar muito, pelo que a gente percebe. Não vai desviar muito o foco. Como é a cabeça dela com tão pouco idade e com tanta coisa acontecendo?
Danilo: Uma menina de 15 anos. Ela lida bem com essa parte fora, extra, quadra. Ela é muito tranquila e muito focada no tênis. Isso facilita bastante o nosso trabalho e todo esse externo que influencia um pouco.
Léo: E tem um entorno familiar que ajuda bastante. Quando entra nesse seu oba-oba, acho que é muito importante o entorno. Então o entorno é eu, Danilo, o pessoal da Rede Tênis, os pais, todo mundo. Então a gente tem muita sorte que a família dela, incluindo o Rodrigo, que é um tipo de padrinho da família. A gente tem muita sorte que a família dela faz muito bem para ela nesse sentido.
Danilo: Rodrigo Avelar é o padrinho dela. Ele é bem próximo da família, um amigo próximo da família.
Léo: Tipo um conselheiro, um cara muito legal. Então nesse núcleo duro que a gente tem, o poder do tênis é bastante tempo alto. E não é sempre que você encontra o entorno, a família dela é nota 10 nesse sentido.
TN: Pelo jeito que vocês estão falando, eles não devem interferir muito. Existem muitos pais que interferem na carreira, interferem nos movimentos.
Léo: Com confiança total na gente. A comunicação, lógico, tem que ser boa. A gente explica para ele, o pai que ensinou ela a jogar. Então, tem uma ligação extra-tenística. Mas ele sabe o que a gente está fazendo, há boa comunicação, mas (a família) nunca se meteu, confia plenamente na Rede Tênis, na equipe. A família é nota 10.
TN: O que vocês veem como pontos a serem melhorados e as principais qualidades dela?
Danilo: Eu acho que assim, talvez, uma das principais qualidades dela seja esse jogo agressivo dela, que é um tênis atual e que a gente vê que é o tênis que se encaminha cada vez mais para se jogar.
Léo: Acho que assim, algumas coisas boas. Ela tem um estilo de jogo definido para a idade dela, que não é todo mundo com 15 anos sabe exatamente como jogar. Então, por exemplo, ela tem um tênis moderno, um tênis de potência, um tênis de posição boa, ela saca muito bem para a idade.
E acho que melhorar… O João Fonseca deu uma entrevista falando no passado, que quando ele entrou nesse memória, ele entendeu que a melhora dele é ser um pouquinho mais regular, sem perder a agressividade dele. Eu acho que a Naná é um pouco isso. A Naná é uma jogadora muito agressiva, a gente nunca vai pedir para ela jogar menos agressiva. Mas com o tempo ela vai entender que ela tem uma ânsia boa de querer fazer muito com todas as bolas. Existem bolas que você não precisa fazer muito. Existem bolas que fazendo um pouco menos, você vai ter mais efetividade, sem correr tanto risco.
Danilo: Sem tirar a essência dela, o jogo agressivo
Léo: A essência dela é jogar para frente, a essência dela é um jogo mais risco, a gente sempre fala isso. A Naná é uma jogadora que joga muito por instinto, a gente não pode tirar o instinto dela.
Tem que colocar ordem em algumas situações, tem que colocar alguns padrões, mas ela é instintiva. Se você tenta prender o jogador que é instintivo, você mata o jogador. Então acho que melhorar um pouco isso, e aí melhorar coisas.
Isso vai trazer a constância para o jogo da Naná. E aí melhorar coisas, que acho que o tênis vai chegar um pouquinho mais na rede, porque com os golpes que ela tem, ela tem que chegar um pouquinho mais, ter uma slice de esquerda que está melhorando, e continuar melhorando.
A gente sempre fala do Big 3 e ontem Danilo e eu estávamos conversando sobre o Nadal. Se a gente pegar vídeo dos 15 anos dele, todo ano tem melhor. Ele jogava muito atrás, depois ele foi mais pra frente, ele não tinha slice, depois ele melhorou o slice, ele sacava mais ou menos, depois melhorou o saque, o backhand não sei o que, melhorou o backhand. Então é sempre ir buscando a melhora, porque o dia que a gente parar de melhorar, aí acabou o jogo.
Danilo: Como o Leo disse no começo, ela é uma jogadora ainda em construção como um todo, então ela está em fase de formação ainda. Apesar de ter um tênis de adulto, um físico de adulto e jogar, já que a gente viu o nível que ela consegue jogar um torneio profissional, ela ainda é uma jogadora em formação. Está sendo construída ainda pra daqui 5, 6 anos, estar jogando um nível muito bom de tênis.
Léo: A gente acha que fisicamente, por exemplo, ela tem 15 anos, fisicamente ela é boa, mas tem muita coisa pra melhorar, que isso o tempo vai dar pra ela.
Pergunta: É uma questão de resistência por conta da idade também?
Léo: Acho que tem muita coisa que você vai melhorando, flexibilidade, resistência, ela já é muito forte, por exemplo, uma coisa muito boa, ela lesiona pouco.
Danilo: Agilidade
Léo: O tênis pra mim e pra gente é um esporte de movimento. Ela melhorou muito a movimentação, mas quanto melhor ela se mover, melhor ela vai jogar, ainda mais no estilo de jogo que ela gosta. Ela gosta de bater todas as bolas. Quanto melhor ela chegar, mais opções de bater a bola que ela quer, ela vai ter. Então, aí tem a parte mental de…
Esse ano aconteceram muitas coisas novas pra ela. Primeira vez que jogou um WTA grande. Ganhou um jogo (nível WTA) . Primeira vez na cidade dela. Foi a primeira vez que ela jogou mais do que um Grand Slam, ela jogou os quatro Grand Slams. Primeira vez que ela ganhou um torneio. Primeira vez que ela ganhou um torneio profissional de dupla também. Então, teve várias primeiras experiências. O normal é que as pessoas derrapem mais do que ela derrapou, mas são coisas novas.
O ano que vem vão ser outros desafios novos. Isso vai dando pra ela uma casca, uma vivência pra ela aprender a lidar com situações novas, porque cada vez mais vão começar a aparecer coisas novas. Agora a convocação pra Billie Jean King (Cup)
Pergunta: Foi surpresa pra vocês? Vocês esperavam diante da saída da Bia?
Danilo: Ela foi uma vez como Sparring e juvenil, né? Aí com a saída da Bia, na época do ano que é que tem os WTAs aqui da América do Sul, e sendo em quadra rápida, a gente achava que poderia. A gente achava que poderia. Se não acontecesse também, (essa) é outra coisa que aconteceu mais rápido do que todo mundo imaginava. Mas vamos ver, acho que só de ela estar em equipe já é um feito.
Léo: Mas é uma experiência nova no ano dela, de tantas que ela teve esse ano, pra ela vivenciar e usar isso aí pro futuro dela.
Pergunta: Como é que ela está com tudo isso? Tem alguma ansiedade?
Léo: Nem deu tempo. A gente foi informado na semana de São João da Boa Vista, e como ela tava grande, a gente não quis falar com ela. A gente teve que falar com ela no dia da final, para avisar o capitão Peniza na segunda. Aí ela treinou 3, 4 dias e veio pra cá. (Florianópolis). Então, acho que nem deu muito tempo de… Ela tá feliz de ser convocada e tudo. A gente conversou bastante com ela. E aí a questão de jogar ou não já não compete a nós. Pra mim, só de estar lá, só de ela ser convocada, só de fazer parte do time é uma baita vitória.
TN: Isso mudou o calendário dela?
Danilo: Na verdade, ela ia jogar já o Billie Jean King Junior, e a Billie Jean King é na semana seguinte. A gente tinha planejado um possível torneio, um 125 no Chile, e talvez só tenha alterado esse torneio. Que a gente não quer na semana seguinte.
Léo: Joga o Mundial, ela sai domingo, deve chegar lá na segunda ou na terça, e na sexta joga o Billie Jean King Profissional
Danilo: E aí depois deve jogar mais um torneio. Deve voltar da Austrália, deve descansar um pouquinho, jogar mais um torneio (profissional) para finalizar o ano.
Pergunta: E para o ano que vem? A WTA e o circuito juvenil têm regras, como são essas regras para a idade dela ?
Léo: em 15 anos esse ano, desde o aniversário dela de 15 até ela fazer 16, ela tem 16 torneios juvenis e 10 profissionais. E três convites Profissionais. Então a gente tem que ir administrando
Danilo: A partir de março (aniversário dela), ela vai poder jogar dois torneios a mais.
Léo: Este ano, somando tudo, ela jogou uns 22 torneios. Então no ano que vem a ideia é jogar, tirando a Austrália, todos os Grand Slams juvenis, e de repente antes de Roland Garros, jogar uns dois (torneios juvenis) de preparação; antes de o Wimbledon jogar um, antes do US Open jogar um ou dois. Jogar os dois do Brasil (Banana e Brasil Juniors Cup), e talvez um ou outro mais. E aí a ideia são as outras semanas jogar profissional.
Danilo: Então seria mais ou menos meio a meio. Não vai ser muito diferente desse ano, talvez um pouquinho mais dividido.
Pergunta: Ela está como 700 no ranking. Ela passou a meta de vocês? Como foi isso?
Danilo: Nosso foco acaba sendo muito no trabalho diário, na evolução dela. O ranking acaba sendo consequência. Como o Léo disse, ela teve muitas novas experiências e o normal de uma pessoa, de um atleta nessa idade, com essas novas experiências, ela teve resultados melhores do que a gente esperava. Isso acho que é positivo e mostra a evolução dela, o trabalho dela.
Léo: Com a idade dela é super importante você ir se acostumando ao ganhar.
Então também a gente não pode falar que o ganhar não é importante. Mas o mais importante é a melhoria e a performance, porque isso, no final das contas, leva ao ganhar.
Você esperava que ela terminasse o ano com as vitórias que ela teve no profissional 700? Talvez não. Acho que o ranking de júnior foi mais esperado por nós. Ela está 30 por ali.
O profissional, a gente queria que ela estivesse preparada para jogar o profissional. E mesmo nas derrotas, como aqui, como o ano passado, no final do ano em Ribeirão, que ela pegou uma 200 também, 7/6 no terceiro. Mesmo nas derrotas ela mostrou, acho que pra ela mesmo que é o mais importante e pra nós, os treinadores, que ela está preparada pra jogar nesse nível. Acho que isso é da parte do profissional o mais importante que aconteceu nesse ano.
TN: Então ela está pegando casca para entrar inteira no profissional?
Léo: Inteira nas limitações dela. E eu acho que é importante pra ela também não só a parte tenística, fazer essa transição juvenil-adulto na convivência com os jogadores também de maneira profissional.
Porque não é fácil você colocar uma menina de 15 anos por 25 semanas no mundo adulto. É difícil. Então a gente tem que tomar cuidado com a seleção. Não pode ter pressa.
Acho que, de novo, o nosso grande… a nossa grande responsabilidade aqui vai muito mais além de direita e esquerda. É fazer as coisas sem pressa.
A gente quer que a Naná jogue bem por 10, 15 anos. Não precisa jogar bem no ano que vem. Bom, a gente quer construir uma atleta que tanto fisicamente, como tenisticamente, como mentalmente ela tenha uma carreira longeva.
Que não tenha burnout, que não tenha isso, que não tenha aquilo, que não tenha lesão. A gente quer construir as coisas com calma pra ser uma coisa bem edificada
TN: Ela tem acompanhamento psicológico?
Léo: Na Rede Tênis a gente tem uma equipe de psicologia que é a dela e a Mari.
Mari Andreoli, da equipe da Carla de Pierro. O nutricionista dela que é o Nicastro. Tem o seu próprio preparador físico. A gente tem uma equipe, quando precisa, tem um médico. É uma equipe multidisciplinar boa.
TN: Ela tem um jogo até bem tipo uma quadra rápida. Ela gosta de quadra rápida, ou ainda prefere o saibro?
Danilo: Ela prefere quadra rápida. Apesar de jogar ainda, esse ano ter jogado, a gente estava colocando ela jogando mais no Saibro para desenvolver o jogo, acho que isso era uma mesma ideia de desenvolvimento, mas ela prefere, de preferência, ela prefere jogar quadra rápida.
Léo: Eu acho que ela vai jogar bem todas as quadras. E outra, no nível lá em cima as quadras são muito parecidas de velocidade. A gente tenta formá-la para ser uma jogadora que não tenha muita dificuldade de adaptação a quadra A, B ou C.
Todo jogador tem a quadra preferida, a dela é a rápida, mas o primeiro torneio que ela ganhou foi no Saibro. O Juvenil, esse ano que ela melhor jogou, foi um Wimbledon. O torneio de maior pontuação que ela ganhou o primeiro jogo (WTA) foi o da 250 na rápida. Então nesse ano ela tem resultado na rápida, no saibro e na grama. E o ano que vem a gente quer dar para ela a experiência de jogar na rápida.
TN : Mais torneios juvenis ou profissionais?
Léo: Meio a meio.
TN: Até onde ela pode chegar? A gente pode dizer assim, o céu é o limite para ela? É uma pergunta difícil, é bem complexa. Você falou que é coisa de uns 5 ou 6 anos, mais ou menos vocês acreditam que ela pode estar estabelecida? O que vocês imaginam?
Léo: Eu acho que para nenhum dos dois opostos, o treinador pode colocar limite no jogador. Eu não gosto de olhar para um jogador e falar isso aqui não vai dar nada e também não gosto de curso de inglês, esses cursos falam inglês em 5 semanas. Ela tem 15 anos, ela está numa maratona.
Eu acho que a posição dela na maratona para a idade dela é muito boa. Ela está no pelotão da frente. Aonde ela vai chegar? Tem muitas variáveis que a gente não controla e tem muitas variáveis que aparecem que a gente não sabe. Eu acho que ela tem tudo para ser uma grande jogadora. Uma grande jogadora pode ser 100, 50, 80, só aí o tempo dirá. Mas tem muitas variáveis que eu não acho que dá para colocar o número. Eu nem gosto, tem muito tempo para passar”









