Nesta quarta-feira, 3 de dezembro, o mundo do tênis celebra 25 anos da histórica conquista de Gustavo Kuerten no ATP Finals, que naquele ano foi realizado em Lisboa, em Portugal. O título chegou em uma campanha fenomenal e única na história do tênis.
No capítulo de sua biografia, Guga – Um Brasileiro, o ex-tenista brasileiro recorda em detalhes a conquista do Masters de Lisboa, do sapato social esquecido para a cerimônia oficial de abertura do torneio, um jantar para os oito melhores do ano e suas famílias e equipes, à sofrida vitória diante do americano Pete Sampras.
Aquela era a segunda vez de Guga na MAsters Cup, nome dado ao hoje conhecido ATP Finals até 2008, mas ele ainda não conseguia estar acostumado. Então vice-líder da ATP, o brasileiro foi cabeça de chave do evento com o então número, o russo Marat Safin e no sorteio teve um grupo difícil com os ex-números 1 do mundo, o americano Andre Agassi e o russo Yevgeny Kafelnikov, além do sueco Magnus Norman, ex-top 2.
“A meu favor, o Masters vai acontecer em Lisboa (…) Na pior das hipóteses, eu teria o apoio do povo e isso seria reconfortante”, relembrou em sua biografia. Guga conta que buscou treinar com todos os presentes ao torneio naquele ano, com exceção de Safin, com quem brigava pelo título e o posto de número 1. No grupo de Safin, a vida não era tão fácil pois lá estavam Pete Sampras, então 3, mas ex-número 1 e à época dono de 13 títulos do Grand Slam, além do espanhol Alex Corretja, ex-top 2, e Lleyton Hewitt, naquele torneio o mais jovem da chave e que viria a ser número 1 após Guga.
“Me sentia a ponto de bala, pronto para encarar qualquer um”, resumiu Kuerten. Em sua estreia na competição, Guga pegou Agassi, venceu o primeiro set em 6/4 e como descreve em sua biografia ficou surpreso com o apoio do público ao rival.
“Aquilo me desconsertou. Perdi uma oportunidade aqui, um breakpoint ali, fui travando à medida que Agassi se empolgava(…) Lá pelas tantas, para completar, em função do cansaço, travei as costas. O chefe dos fisioterapeutas entrou em quadra, tentou me consertar, mas não teve jeito”, descreve.
Guga abriu a campanha com derrota de virada em 4/6 6/4 6/3. “Saí desolado de quadra, com meu time me olhando com expressão triste”.
O manézinho da ilha recorda que saiu direto para tratamento, soube da vitória inicial de Safin 6/7 (6) 7/5 6/3 sobre Corretja e que após 3 horas de tratamento foi para o hotel onde ficou até às 4h da manhã sendo tratado pela mãe.
Para o jogo seguinte, a condição física de Kuerten era dúvida, inclusive para ele que aqueceu por apenas 20 minutos e já tinha perdido de vista o objetivo de se número 1: “Só queria ficar vivo no torneio”. Mas a vitória com folga contra Magnus Norman, placar de 7/5 6/3, fez essa preocupação desaparecer: “Me vi voando em quadra, jogando o melhor tênis da minha vida”, escreveu.
Logo depois, o brasileiro bateu o russo Kafelnikov em um jogo curto, que durou somente 1h9m com 6/4 6/3. “Acho que nunca dei tanta pancada, bordoada e matelada numa partida só”, descreveu ele que jogou ao mesmo tempo em que Safin, já classificado à semi, encarava Sampras e se vencesse, seria número 1 ao fim da temporada, mas o russo foi atropelado 6/3 6/2.
“Desconfio que Safin dea ter sentido o peso do que significaria mais uma vitória. Na pior das hipóteses, mesmo que não vencesse a final, ficaria com o número 1 no fim da temporada”, destaca Guga, que com a vitória sobre Kafelnikov, foi à semi enfrentar Pete Sampras, que já o havia derrotado em duas ocasiões.
“Pela lógica, seria quase um milagre ganhar de Sampra, o melhor jogador que enfrentei na vida, naquela superfície (piso rápido soberto)”, recordou Guga destacando que entrou em quadra nervoso, pois daquele jogo em diante dependia apenas de si mesmo para assumir o número 1 dado que Safin foi atropelado por Agassi em um duplo 6/3 na semifinal anterior.
Guga saiu perdendo em 3/0 para o americano, mas reagiu e perdeu nos detalhes o tiebreak do primeiro set. “No intervalo, sentado no bando, mordendo a toalha, estava irreconhecível. Era a personificação da calma. Sabia que estava jogando melhor do que ele. O pior havia passado”, descreveu ele que venceu a partida de virada com placar de 6/7 (5-7) 6/3 6/4.
Na final, Kuerten encarou um ídolo de infância, a quem naquela ocasião já havia encarado nove vezes, mas ainda ‘se sentia estranho' de encarar. Em quadra, domínio do fã que venceu a final que era em cinco sets com placar de 6/4 6/4 6/4.
“Naquele momento, de imediato, a sensação era realmente maravilhosa. No dia 3 de dezembro de 2000, ao levantar a taça do Masters Cup, eu batia três recordes ao mesmo tempo. Acabava de me tornar o único tenista da história a vencer Agassi e Sampras em semifinal e final no mesmo torneio. Além disso, era o único brasileiro a ter a glória de conquistar o torneio dos campeões e, por fim, aos 24 anos também o único sul-americano a terminar o ano na posição de número 1”, resumiu o brasileiro.
Eterno número 1 do Brasil, Gustavo Kuerten chegou ao ápice de sua brilhante e única carreira há 25 anos. Carreira construída desde a infância, passando pela perda do pai, Aldo – seu maior incentivador ao lado da mãe Alice, ainda criança. Guga se profissionalizou em 1995 e assombrou o mundo em 1997 quando surpreendeu até si mesmo e venceu Roland Garros em uma campanha histórica. Guga é o único sul-americano tricampeão de um mesmo Slam, com títulos em 2000 e 2001 também em Paris.









