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Na Linha, Paulinha! - Árbitra vira Bronze Badge e agora pode fazer Grand Slams

Terça, 07 de novembro 2006 às 23:21:57 AMT

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Paula Capulo - Bronze

Por Paula Capulo, árbitra de cadeira da ITF

É Bronze!! Depois de muitas semanas, de estudos e dedicação, Paula Capulo tem o orgulho de anunciar em sua mais nova edição da coluna que agora é a primeira árbitra feminina Bronze Badge do Brasil e a primeira sul-americana ao lado de sua amiga argentina Analia. Com essa nova certificação, a árbitra de 24 anos poderá realizar jogos de cadeira nos principais torneios do mundo como Grand Slams, ATPs, WTAs e Copa Davis. Antes do final do ano ela ainda continua sua gira de torneios pelo México.

Mandem suas dúvidas de regras, elogios e críticas:

paulinhacapulo@hotmail.com

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Oi pessoal,

Comecarei a coluna pedindo desculpas pelo tempo que passei sem mandar notícias. O motivo é compreensível: precisava estudar (e muito!) para o Curso Nível 3 da ITF (Federação Internacional de Tênis) para árbitro de cadeira internacional. Como anteriormente eu já havia explicado, são quatro níveis diferentes: white badge (ou conhecido como nacional badge para a ITF), Bronze, Silver e Gold Badge.

A ITF, ATP e WTA consideram parte da suas equipes internacionais a partir do Bronze. A inscrição para o nivel 3 é mais ou menos assim: os árbitros que possuem o “white” mandam suas aplicaçoes para a ITF, e essa seleciona alguns para participarem do curso. Depois de dois anos o curso voltou a ser realizado na America Latina (o último aconteceu na Argentina, em 2004). Era uma oportunidade e um desafio imperdível para mim, pois até entao nenhum arbitro do sexo feminino tinha logrado ganhar um Bronze na America do Sul.

Viajei para São Paulo depois de 6 semanas seguidas de torneios aqui no México, das quais não tive nem um dia sequer de descanso dos livros que tinha que estudar. E o conteúdo era extenso: todas as regras da ITF, ATP, WTA, Fed Cup, Davis Cup e Grand Slam.



Passei praticamente vivendo (ou não) apenas para os estudos e uma das gratificações era saber que se fosse aprovada no curso seria o último para árbitro de cadeira, pois para subir ao Silver ou Gold nao é necessario cursos, e sim a experiencia que vamos adquirindo juntamente com a aprovação dos superiores.

Depois do prazer de reencontrar muitos amigos de outros países que iriam participar do curso também, o único sentimento que eu sentia era de um frio na barriga incontrolável e que parecia nunca sair de mim.

O curso foi administrado em três dias pelos melhores professores do mundo em regras de tenis: Paulo Pereira (ATP), Mike Morrissey, Inglaterra, e Stefan Fransson, Suécia, (ITF) e Fabrice Chouquet, França (WTA). Para ser aprovado nesse curso, necessitamos passar nos seguintes exames: prova objetiva, subjetiva e oral. Posso garantir por experiência propria que nenhuma foi fácil.

Cada dia que chegava ao fim era como se estivessemos em um jogo de tênis de umas 6 horas. A concentração e o cansaço eram os mesmos.

No dia 26 de outubro, as 2h30 da tarde, saíram os tão esperados resultados, e eu tinha sido uma das aprovadas. Minha emoção e alegria se misturaram com um peso que parecia ter saido de cima dos meus ombros e de um desgaste físico e mental, não pude controlar o choro. Era algo que eu tinha lutado e batalhado desde o momento em que tinha sido aprovada no white. Admito que na maioria das vezes eu jurava que nao seria capaz de aprovar, mas em cada momento desses eu me lembrava da sabia frase que meu pai me ensinou: “A pessoa é do tamanho dos seus sonhos”. Então nunca me dei por vencida.

Não posso deixar de parabenizar alguns de meus amigos que aprovaram no curso, como o brasileiro Luis Parada (Paradinha) e o argentino Alejandro Roldan, e para Referee Alejo Russel.

Paulinha e Alejandro Roldan

Mas a grande noticia do curso de Referee (que é realizado na mesma data) foi da aprovação da mexicana Cristina Romero, com quem trabalho muito aqui. Ela se tornou a primeira Referee internacional da América Latina. Esse Bronze dedico a todas as pessoas que me ajudaram, e nao só agora, desde o começo da minha carreira. Não listarei os nomes, embora não foram muitas, mas cada uma sabe quem foi.

Paulinha junto com Roldan (agachado), Anália (esq.) e Cristina (dir.)

Agora só nao posso deixar de agradecer a duas pessoas que nunca deixaram de me incentivar: meus pais. Não pude festejar com eles esse grande passo, pois assim que acabou o curso, eu já estava voando de volta para o México outra vez.

Mãe, sei que fui e estou sendo muito ausente na tua vida, em datas importantes como os teus dois últimos aniversarios que estive longe. Não tenho palavras para te agradecer por sempre ter estado presente em cada dia em que não estive do teu lado, com palavras doces e por nunca, nunca ter me deixado desistir. Essa tua força e tua maneira de me entender, sendo a pessoa mais compreensível que conheço, foi o que me manteve lutando ate hoje.

Pai, com tua tranquilidade sábia e com a tua voz firme quando precisei, me fizeste levantar a cabeça e seguir adiante. Nao me deixando cair por nada que fosse e por ter sempre repetido que eu era capaz.

A vocês dois só quero agradecer pela pessoa que sou e pelo carater que tenho. Com muito orgulho, e em meio dessa coluna completamente meio dramática, digo a todos que conquistei, junto com a minha amiga argentina Analia, os dois primeiros Bronze Badges femininos na América do Sul. Isso pode parecer nada, mas juro que para nós isso significa que ganhamos uma dura batalha para estarmos aqui.

Nao que será fácil de agora em diante, muito pelo contrario. Mas desafios foram feitos para serem vencidos, e isso é que tentaremos.

Um beijo a todos e até a próxima,

Paulinha
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